No primeiro ano? Não, é muito cedo. Quando iniciarem a pré-escola? Ainda são muito novos. Então deixamos para a adolescência, período de grandes transformações físicas, sociais e emocionais.
Infelizmente, muitos pais ainda pensam dessa forma, invalidando completamente os sentimentos e emoções das crianças simplesmente porque elas são… crianças. O pior é que, muitas vezes, essa postura ocorre sem conhecimento das consequências que essa falta de atenção pode gerar.
Essa desinformação pode deixar as crianças emocionalmente despreparadas para a vida, prejudicando não apenas a si mesmas, mas também as pessoas ao seu redor. É um assunto sério.
É fundamental que os pais compreendam as fases de desenvolvimento infantil. Neste post, quero focar nos primeiros momentos da vida e nos conhecimentos essenciais para garantir um desenvolvimento emocional saudável para aqueles que mais amamos.
No capítulo 2 do meu livro “Filhos, nosso amor mais lindo”, falo sobre os cuidados que as mães passam a ter após a gestação: alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos (a não ser que seja contraindicado), evitar o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro, além do acompanhamento pré-natal. Mas onde estão os cuidados com as emoções do bebê? Muitas vezes, a saúde emocional do bebê é negligenciada, mesmo sendo um fator importante para seu desenvolvimento futuro.
E para que esse bebê desenvolva um cérebro saudável, cinco condições são necessárias: controle do estresse materno, alimentação adequada, manutenção de um peso saudável, prática regular de exercício físico e qualidade do sono.
O autocuidado é essencial em qualquer fase da vida, mas, durante a gestação, ele deve ser ainda mais intenso, afinal, estamos gerando um ser que depende totalmente de nós.

O impacto do estresse materno na gestação
O estresse que a mulher sente durante a gestação pode moldar o cérebro do bebê, afetando estruturas como o hipocampo ou amígdala (não a da garganta, mas sim a cerebral).
Hipocampo: responsável pela memória e pelo equilíbrio emocional.
Amígdala: estrutura cerebral que processa as emoções como medo e ansiedade.
Preocupações excessivas durante a gravidez também podem prejudicar a produção de uma enzima na placenta, que normalmente impede que o cortisol (hormônio do estresse) da mãe alcance o bebê. Quando essa barreira falha, o feto fica exposto ao estresse, podendo nascer mais irritado e agitado. Muitas mães se perguntam por que seus bebês choram tanto e são mais sensíveis ao estresse – a resposta pode estar na gestação.
Além disso, o estresse materno também impacta o metabolismo do bebê. O excesso de cortisol pode aumentar a secreção de leptina, hormônio que regula o apetite, levando o feto a armazenar mais gordura na região abdominal. Esse desequilíbrio metabólico pode aumentar as chances de sobrepeso, obesidade, doenças cardíacas e diabetes na vida adulta.
Mães que enfrentam altos níveis de estresse durante a gravidez também podem ter mais dificuldades na autorregulação emocional, o que impacta diretamente a forma como lidam com seus bebês.
Alguns acontecimentos precisam ser observados cuidadosamente. Entre os principais eventos estressores estão: ansiedade e depressão materna, perda de emprego, dificuldades financeiras, divórcio, luto, traumas, além do consumo do álcool, tabagismo e drogas.
Álcool e outras substâncias na gestação
Muitas pessoas ainda minimizam a importância do cuidado com o feto, mas já nas primeiras semanas de gestação, o consumo excessivo de álcool pode causar danos graves. Um dos riscos mais sérios é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), cujos sintomas incluem:
- Deformidades faciais (olhos pequenos, lábio superior fino e nariz curto);
- Crescimento físico lento;
- Problemas de visão e audição;
- Complicação nos rins e no coração;
- Cérebros menores e dificuldade de aprendizagem;
- Falta de coordenação motora;
- Deficiência na empatia e na comunicação.
Depressão e ansiedade materna: impacto na criança
Muito se fala sobre a depressão pós-parto, mas é importante lembrar que ela pode começar durante a gestação. Estudos indicam que bebês de mães que enfrentam depressão gestacional tem até quatro vezes mais chances de desenvolver depressão na adolescência.
A tristeza ou melancolia pós-parto são comuns, afetando entre 50% e 85% das mães. Nesse período, é frequente a presença de tristeza, irritabilidade, choro constante e uma sensação de vazio. Esses sintomas são desencadeados, principalmente, pela privação do sono associado à queda hormonal. No entanto, com o apoio do pai e dos familiares, essa fase tende a ser transitória e desaparecer em poucos dias.
No entanto, cerca de 15% das mães podem desenvolver depressão pós-parto, um quadro mais grave que afeta não apenas a mãe, mas toda a família. Esse sofrimento exige atenção e acompanhamento profissional o quanto antes, pois pode impactar diretamente o desenvolvimento do bebê.
Além disso, mães com níveis elevados de ansiedade ou depressão podem ter bebês com maior dificuldade em lidar com o estresse. Mesmo recém-nascidos já podem apresentar maior sensibilidade emocional e, aos quatro meses de idade, podem ter níveis elevados de cortisol.
Mulheres que já enfrentaram depressão antes da gestação tem maior risco de desenvolver o transtorno durante a gravidez. Estudos indicam que as taxas de depressão gestacional se assemelham a depressão pós-natal.
Estudos mostram que o consumo adequado de ômega 3 pode reduzir os impactos do estresse e da ansiedade sobre o feto. Além disso, a colina, um nutriente presente na gema de ovo, couve-flor, peixe e algumas frutas, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cerebral, especialmente do hipocampo e da memória do bebê.

Cuidar da gestação é prevenir problemas emocionais futuros quanto doenças físicas. Como destaca o pesquisador Steve Cole:
“Hoje sabemos que a doença é um processo de longo prazo”.
Isso significa que, quanto mais cedo cuidarmos da saúde emocional da criança, maiores serão as chances de evitar problemas futuros.
Falamos da depressão materna, mas é importante lembrar que os homens também podem desenvolver depressão pós-parto. Os principais sintomas incluem tristeza profunda, desesperança, isolamento e sentimento de culpa. Esse quadro pode afetar significativamente a relação mãe-bebê, impactando a saúde da criança. Filhos de pais com depressão pós-parto tem maior risco de desenvolver transtornos comportamentais e, na adolescência, podem estar mais vulneráveis a um maior envolvimento com drogas.
Mamães, não se desesperem se passaram por situações de estresse, ansiedade ou depressão durante a gestação. Nem tudo está perdido! O cérebro do bebê é incompleto, mede apenas um quarto de seu tamanho quando adulto. Assim, os cuidados na primeira infância têm um papel essencial na sua formação. Há possibilidade de recuperação, especialmente no período pós-natal. Em resumo, o amor e os cuidados investidos poderão contribuir significativamente para o desenvolvimento saudável do bebê, proporcionando-lhe um futuro mais equilibrado.
Um aprendizado ancestral sobre a importância das emoções
Você sabia que, no século XVIII, as mulheres grávidas na Patagônia recebiam um tratamento especial? Elas acordavam com música, praticavam exercícios e eram incentivadas a se divertir. Isso porque os patagônios já reconheciam a influência da saúde emocional materna no desenvolvimento da criança.
Por isso, é essencial investir no autoconhecimento e buscar informações sempre que necessário. Não negligencie seus sentimentos. Se precisar busque ajuda profissional, sua saúde mental importa e pode fazer toda a diferença na vida do seu bebê.

Até a próxima! Um grande beijo e fiquem com Deus 😉
Fonte: Livros: Por que o amor é importante.
O Mito do Normal