
Hoje trago uma entrevista especial com o colega psicólogo escolar Lucas Azevedo, que atua diretamente no cotidiano das escolas, acompanhando de perto os desafios emocionais, sociais e pedagógicos vividos por crianças e adolescentes. Com sua experiência, ele compartilha reflexões valiosas sobre o papel da escola na formação integral dos alunos e na parceria com as famílias.
1. Qual é o papel do psicólogo escolar dentro da instituição de ensino?
O psicólogo escolar não é alguém que “apaga incêndios” quando surgem problemas, mas um profissional que trabalha preventivamente. Ele observa os processos de aprendizagem, identifica bloqueios emocionais, ajuda a construir pontes entre professores, alunos e famílias. É um mediador que lembra à escola que ensinar matemática é importante, mas ensinar a conviver é indispensável.
2. Quais os principais desafios que você encontra no dia a dia?
O grande desafio é lidar com expectativas desencontradas: pais que esperam que a escola eduque, professores que esperam que a família prepare, e alunos que ficam perdidos nesse jogo de empurra. Além disso, há a escassez de recursos, o imediatismo das novas gerações e, muitas vezes, a dificuldade de reconhecer que aprender exige esforço, paciência e limites.
3. Muitos pais acreditam que a escola é a principal responsável pela educação dos filhos?
A escola ensina conteúdos, socializa, organiza o conhecimento. A família ensina valores, dá afeto, estabelece limites. Quando uma tenta substituir a outra, a criança perde. A educação é um concerto: escola e família são dois instrumentos diferentes, mas só fazem sentido se tocarem juntos.
4. Quais sinais mostram que os pais estão transferindo demais sua responsabilidade para a escola?
Quando não acompanham a lição de casa, não sabem o nome do professor, nunca comparecem às reuniões e, ainda assim, reclamam dos resultados. Quando acham que disciplina é papel da escola e não uma rotina doméstica. São sinais claros de que a família terceirizou o que não pode ser terceirizado.

5. Como o envolvimento dos pais pode contribuir para o sucesso acadêmico e emocional dos filhos?
Quando os pais se interessam pelo que o filho aprende, a criança entende que estudar tem valor. Esse envolvimento cria um alicerce emocional: a criança não se sente sozinha diante das dificuldades, sente-se apoiada. É o apoio silencioso que dá coragem para seguir.
6. Qual o papel da família no ensino de respeito aos colegas e professores?
A escola pode reforçar o respeito, mas quem ensina é a família. Uma criança que vê seus pais tratando os outros com educação aprende a respeitar. Uma criança que cresce em casa ouvindo gritos e ofensas, dificilmente terá outra lógica de convivência. A família é a primeira escola de cidadania.

7. Como os pais podem reforçar em casa atitudes de empatia, disciplina e convivência saudável?
Não se ensina empatia com discursos, mas com exemplos. O modo como os pais lidam com o vizinho, com o atendente, com o próprio filho, já é uma aula. A disciplina nasce de rotinas claras: hora de dormir, de estudar, de brincar. O equilíbrio entre afeto e limite é a base da convivência saudável.
8. Quando há casos de desrespeito ou bullying, qual deveria ser a postura da escola e qual deveria ser a postura da família?
A escola deve agir rápido, acolher a vítima e trabalhar com o agressor, sem banalizar nem estigmatizar. A família precisa encarar o problema com seriedade, não com desculpas ou negação. A criança precisa de dois faróis: o da escola, que aponta o caminho do conhecimento, e o da família, que ilumina os valores.
9. O que pode acontecer com uma criança ou adolescente quando cresce sem limites claros e sem noção de responsabilidade?
Uma criança sem limites pode se tornar um adulto frágil diante das frustrações da vida. Limites não são prisões, são mapas. Quem cresce sem eles se perde, porque não sabe até onde pode ir nem como lidar quando o mundo lhe diz “não”.
10. Que mudanças você observa nas novas gerações em comparação com os estudantes de alguns anos atrás?
As novas gerações são mais rápidas, mais conectadas, mais questionadoras. Ao mesmo tempo, menos tolerantes à espera, menos resistentes à frustração. Não é que sejam piores ou melhores — são diferentes. Vivem em um mundo acelerado, e isso exige de nós adultos mais paciência e sabedoria.

11. Como construir uma verdadeira parceria entre escola e família, sem que uma tente substituir a outra?
Parceria exige respeito aos papéis. A escola não deve ditar como os pais educam em casa, e os pais não devem querer controlar cada detalhe pedagógico. Cada um com sua função, mas em diálogo permanente. A parceria verdadeira nasce quando ambos lembram que têm o mesmo objetivo: o bem da criança.
12. De que forma reuniões escolares e acompanhamentos podem deixar de ser burocráticos e se transformar em momentos de real cooperação?
Reunião só faz sentido se houver escuta. Pais não vão à escola para ouvir sermões ou gráficos frios. Eles precisam sair dali com ferramentas, reflexões e orientação prática. Quando a reunião é viva, todos saem ganhando.

13. Qual mensagem você daria para pais que acreditam que “a escola deve dar conta de tudo”?
A escola é fundamental, mas não faz milagres. Ela ensina a ler, mas quem ensina a amar a leitura é a família. Ela ensina história, mas quem ensina a respeitar os mais velhos é a casa. Quem coloca tudo na conta da escola condena o filho a uma formação incompleta.
14. Em que situações os pais devem procurar diretamente o psicólogo escolar?
Sempre que houver mudanças bruscas de comportamento: isolamento, queda no rendimento, tristeza persistente ou agressividade. O psicólogo escolar não é apenas para casos “graves”, mas também para orientar, prevenir e apoiar.

15. Se pudesse deixar um conselho prático para os pais sobre como participar mais ativamente da vida escolar dos filhos, qual seria?
Mais do que cobrar notas, sentem-se ao lado do filho, perguntem como foi o dia, acompanhem pequenos detalhes. O filho não precisa de pais perfeitos, mas de pais presentes. Uma pergunta feita todos os dias — “como você está?” — pode valer mais do que mil discursos.
Até a próxima! Um grande beijo e fiquem com Deus 😉.
Lucas Azevedo
Neuropsicólogo e Analista — Palestrante e Consultor Institucional
• Psicoterapia On-line (18+)
• Avaliação Psicológica & Psicodiagnóstico (18+)
• Implementação de NR1
• Inteligência Emocional aplicada à Gestão de Pessoas e Liderança
Mestre em Psicanálise. Escritor. Pesquisador/Especialista em Cannabis Medicinal.