Bullying

O bullying é uma questão social preocupante que afeta indivíduos de todas as idades e origens, sendo mais comum entre crianças e adolescentes em ambientes escolares. No entanto, pode ocorrer em qualquer ambiente.

Por muito tempo, algumas brincadeiras eram consideradas “normais” ou “coisas de criança”, mas essa mentalidade é prejudicial. A verdade é que essas “brincadeiras” podem ser extremamente cruéis e deixar marcas emocionais, psicológicas e físicas profundas nas vítimas e suas famílias. É hora de reconhecer o dano que essas atitudes podem causar.

O termo bullying se tornou tão comum que, muitas vezes, ouvimos pessoas dizendo: “Que coisa chata, agora tudo é bullying”. Infelizmente, há uma tendência de banalizar situações graves ao minimizar o problema com frases como “é próprio da idade”, sem levar em conta os aspectos reais do desenvolvimento infantil, essa abordagem apenas contribui para a naturalização de um problema sério que exige atenção e conscientização. 

Bullying é uma palavra inglesa, a língua portuguesa não encontrou uma palavra para expressar profundamente o que ela significa. Segundo Ristum o bullying é “um abuso de poder físico ou psicológico entre pares, envolvendo dominação, prepotência, por um lado, e submissão, humilhação, conformismo e sentimentos de impotência, raiva e medo, por outro. As ações abrangem formas diversas, como colocar apelidos, humilhar, discriminar, bater, roubar, aterrorizar, excluir, divulgar comentários maldosos, excluir socialmente, dentre outras”.

O bullying causa sofrimento intenso e devastador. Muitas vítimas sofrem em silêncio, enquanto outras podem recorrer a medidas extremas, como suicídio, drogas ou buscam vingança ceifando a vida de pessoas inocentes. 

Todos nós já vimos nos noticiários casos alarmantes de jovens que infelizmente entram em escolas armados, cometendo atrocidades contra colegas, professores e funcionários. Quando investigados, esses jovens revelam que o que os levaram a cometer tais atos foi, na sua maioria, o sofrimento causado por maus-tratos, humilhações e diversas formas de violência, seja no âmbito familiar ou escolar. Em muitos desses casos, esses jovens foram vítimas de bullying, o que contribuiu para o desfecho trágico.

Cottonbro studio.

Como os pais reagem quando seus filhos agridem o colega? Sabemos que muitos não aceitam e até protegem os filhos, ignorando o fato de que esse comportamento pode ser um indicativo de que no futuro, o filho poderá progredir para comportamentos delinquentes e até criminalidade mais grave.

Conheça a Lei nº 13.185

A Lei nº 13.185/2015 instituiu o Programa de Combate à intimidação Sistemática (bullying), atribuindo responsabilidades aos estabelecimentos de ensino, clubes e agremiações recreativas. Contudo, a legislação não especifica punições diretas para os agressores. Em contrapartida, nos casos de homicídio envolvendo menores de 14 anos, há uma pena de 12 a 30 anos de reclusão, com a possibilidade de aumento de até dois terços, caso o crime ocorra em instituição de ensino, seja pública ou privada. Além disso, a indução ou instigação ao suicídio ou automutilação recebe uma pena de dois a seis anos de reclusão, que pode ser duplicada se o autor estiver a frente de um grupo, comunidade ou rede virtual.

Perfil dos transgressores

Os agressores vêm frequentemente de famílias marcadas pela ausência de afeto, com dificuldades para compartilhar emoções e um distanciamento entre pais e filhos. Os pais desses agressores costumam ser críticos e raramente fazem elogios. Muitas vezes, eles não ensinam aos seus filhos que a violência é inaceitável, usando métodos de disciplina frágeis e inconsistentes, com pouco controle e supervisão sobre o comportamento dos filhos. Além disso, esses pais adotam estilos parentais autoritários e punitivos, onde os castigos físicos são habituais.

Deveres da escola

Os educadores precisam estar atentos para evitar interpretações equivocadas. Os agressores muitas vezes mentem, inventam histórias e ameaçam as vítimas para que não denunciem o ocorrido. Não é necessário que o agressor tenha uma motivação para praticar o bullying; mesmo que haja uma razão, o comportamento ainda assim, pode ser configurado como bullying. O professor, ao interpretar o conflito, pode erroneamente vê-lo como uma simples briga, desconsiderando o contexto e a gravidade da situação.

Os educadores também têm a responsabilidade de denunciar, mesmo que de forma anônima, visto que a omissão é considerada uma infração grave, conforme o artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 

Sinais de quem está sofrendo bullying

  • Baixo rendimento escolar
  • Alterações extremas de humor
  • Surgimento de hematomas e ferimentos  o corpo
  • Volta da escola com roupas ou cadernos/livros rasgados e/ou material danificado
  • Desculpas de doenças para não ir a escola 

Consequências do bullying

A ocorrência do bullying pode intensificar problemas preexistentes e desencadear transtornos graves como, transtorno do pânico, fobia escolar, fobia social, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), depressão, bulimia, anorexia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) e em situações extremas, aumentar o risco de suicídio e homicídio.

As consequências do bullying podem se manifestar a médio e longo prazo quanto de forma imediata. Muitas vítimas tendem ao isolamento, desenvolvem baixa autoestima e insegurança, recusa em frequentar a escola, justificando suas ausências com queixas de doenças. Além disso, podem apresentar também, baixo rendimento escolar, dificuldade de concentração nas aulas, além de depressão  e ideação suicida. 

Goran Horvat por Pixabay.

Causas do bullying

As causas do bullying são complexas e multicausais, envolvendo diversos fatores. No entanto, os fatores familiares foram apontados como alguns dos mais significativos.

  • Falta de tempo e atenção dos pais; 
  • Falta de participação na vida dos filhos;
  •  Ausência de afeto entre os membros da família;
  • Contradição na disciplina e orientação;
  • Punição exagerada e abuso de poder;
  • Falta de normas e limites;
  • Filhos superprotegidos;
  • Violência na solução de conflitos entre irmãos.

Importante ressaltar que nem todos que vivem em lares desfavoráveis são praticantes de bullying.

Formas de bullying

As formas de praticar bullying podem ser de forma direta (física e verbal) ou indireta (fofoca, difamação). E podem ser expressadas das seguintes formas:

Verbal

  • Xingar
  • Ofender
  • Apelidos pejorativos
  • Piadas ofensivas
  • Aviltar

Físico

  • Bater
  • Chutar
  • Empurrar
  • Ferir
  • Agredir

Material

  • Roubar
  • Quebrar pertences
  • Danificar pertences
  • Jogar objetos na vítima

Psicológico e Moral

  • Fazer críticas raciais
  • Humilhar
  • Isolar
  • Ignorar
  • Difamar
  • Colocar apelidos
  • Rejeitar
  • Excluir

Sexual

  • Abusar
  • Violentar
  • Assediar
Mikhail Nilov.

Fiquem atentos

Algumas formas de bullying podem passar despercebidas, fazendo-nos acreditar que não estejam ocorrendo. No entanto, é preciso estar atento, pois palavras ferem, machucam e humilham. Certas atitudes podem parecer banais, mas para crianças e adolescentes não são. Muitas coisas acontecem durante o período escolar, e muitas vezes, essas dinâmicas passam despercebidas pelos adultos. Certa vez, ouvi relatos de uma escola onde alguns alunos faziam lista para classificar os pais com base no poder aquisitivo – quem tinha o pai com maior salário, quem tinha mais tênis de marca, qual marca do carro cada pai possuía e os países que já haviam conhecido. Agora, imagine os alunos que não fazem parte de nenhuma dessas listas, como se sentem e como são tratados? Atitudes como essas são vistas como engraçadas por alguns adultos. O mais alarmante é que esse tipo de comportamento já ocorre também entre crianças menores. O sobrinho de apenas seis anos de idade de uma amiga, relatou que esse tipo de comentário já faz parte na turma em que estuda, mesmo que apenas de forma verbal. 

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É desesperador perceber como, desde cedo, as crianças começam a ser afetadas por esse tipo de discriminação e exclusão, muitas vezes sem sequer entender o impacto emocional que isso tem sobre elas.

Pais e responsáveis

Quando um filho nos conta que seu colega o chamou de “feio” ou fez qualquer comentário pejorativo, é essencial ouvi-lo atentamente, conversar sobre o ocorrido, conversar a respeito e buscar esclarecimentos com a escola. Não se trata de culpar alguém ou estar na escola diariamente, mas de estar atento desde o início, pois quanto mais o problema persistir, maior o risco de agravamento.

Muitos pais acreditam que não devem intervir, pensando que estão “criando filhos fracos” e que precisam aprender a resolver sozinhos. Mas lembrem-se que essas crianças e adolescentes ainda estão em desenvolvimento, e seu cérebro não está totalmente formado. A região pré-frontal, que é a última a se desenvolver, é responsável pela tomada de decisões, controle de impulsos e das emoções e pela  resolução de problemas, entre outros. Por isso os filhos precisam do apoio dos  pais não apenas para serem orientados, mas também para se sentirem acolhidos e seguros.

Hoje, muitos pais ainda sofrem profundamente com a  perda de seus filhos, seja por suicídio, assassinato ou pelos efeitos devastadores de transtornos mentais. Em muitos casos, essa tragédia ocorre pela incapacidade de alguns pais de ensinar valores essenciais, como o respeito. Muitos pais “passam a mão na cabeça” dos filhos diante de comportamentos transgressores, muitas vezes para compensar a própria ausência, cedendo às vontades dos filhos e assim, impedindo que amadureçam. O resultado são jovens que se tornam egoístas, sem respeito pelas regras e limites, despreparados para os desafios da vida, voltados ao envolvimento com substâncias químicas e atingindo pessoas inocentes, que acabam pagando um preço alto injustamente. 

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Os pais precisam estar envolvidos efetivamente na vida dos filhos, promovendo o diálogo, a escuta atenta e o fortalecimento dos vínculos afetivos. Participar da vida escolar e social dos filhos, sempre de forma empática. Além disso, é essencial estabelecer regras e limites de maneira respeitosa, promovendo um ambiente seguro e de compreensão mútua.

Alguns pais tendem  a responsabilizar os filhos por não saberem lidar com as agressões. No entanto, diante de qualquer situação e antes de qualquer julgamento, é essencial ouvir atentamente o que eles têm a dizer. Somente com o apoio da família é que eles poderão lidar com o bullying ou qualquer outra situação. 

Quando as crianças sabem que podem contar com seus pais, elas não temem as ameaças, pois têm confiança e segurança em seu apoio. 

 Converse com seus filhos desde cedo; não permita que se percam no caminho, nem que outros pais passem pela dor de perder seus filhos.

Até a próxima! Um grande beijo e fiquem com Deus 😉.

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