Divórcio e os Filhos: Como Proteger os Vínculos e Minimizar Impactos

Lidar com o divórcio não é fácil, especialmente para os filhos. Embora o relacionamento amoroso tenha chegado ao fim, é essencial que os ex-cônjuges encontrem uma nova forma de convivência, agindo como parceiros no cuidado parental. O vínculo romântico se dissolve, mas a parentalidade permanece. Os filhos precisam de apoio e compreensão para passar por essa transição de maneira saudável. Embora desafiadora, a separação tem se tornado cada vez mais comum. De acordo com o IBGE, o Brasil registrou um recorde de 420 mil divórcios em 2022.

Esse cenário exige uma reorganização estrutural, emocional e processual no sistema familiar. Muitos pais não estão preparados, especialmente para lidar com as questões emocionais, que acabam ficando em segundo plano, enquanto as questões práticas, como por exemplo, a divisão de bens, dominam. Os danos da separação podem surgir ao longo dos anos, não sendo imediatos. Contudo, a forma como o divórcio se conduz pode ser muito impactante. 

Não estou afirmando que todo divórcio seja maléfico, mas, dependendo de como é conduzido, os estragos podem ser profundos. Afinal, os filhos desejam ver seus pais juntos. Certa vez, ouvi de uma criança afastada dos pais por negligência que ela tinha lindos sonhos; em um deles, ela estava com seus pais e irmãos reunidos em uma mesma casa, e o mais legal era seus pais amorosos que viviam em harmonia, sem brigas. O triste era acordar e perceber que isso não passava de um sonho. Ela compartilhava esse sonho com um sorriso radiante, fechando os olhinhos brilhantes, imaginando aquele sonho como realidade, tamanha era sua alegria.

Observamos que muitos divórcios ocorrem de maneira violenta, marcados por raiva e mágoa entre os ex-cônjuges, sentimentos que acabam sendo projetados nos filhos. É fundamental que os pais assumam a separação com responsabilidade, garantindo que o vínculo afetivo dos filhos com ambos seja preservado, sem tomar partido de um ou outro.

Fonte: Pixabay – Mimzy.

Infelizmente, há casais que se separam sem comunicar adequadamente aos filhos, ou, quando o fazem, os proíbem de compartilhar com outros o que está acontecendo. Isso não faz sentido, pois o divórcio não pode ser encarado como algo vergonhoso. Os filhos precisam ser informados e têm a necessidade de expressar o que sentem. É comum que busquem apoio em amigos, professores ou outros adultos de confiança para desabafar. 

Os filhos precisam ser informados, preferencialmente, pelos próprios pais. Tudo o que acontece eles precisam ser informados, e caso não seja bem explicado, eles tenderão a interpretar a situação de acordo com a sua própria percepção. Esse é o grande risco. É essencial colocar em palavras o que está acontecendo, pois eles estão vivenciando essa realidade, presenciando não apenas as brigas e discussões, mas também os momentos de silêncio entre os pais.

 Fui convidada para uma palestra em uma escola como parte da Campanha Setembro Amarelo. Ao final do evento, conduzi uma dinâmica na qual alguns alunos sem se identificarem, compartilharam o que mais os afligia. Alguns mencionaram as intermináveis brigas dos pais como a principal fonte de sofrimento. Lembro-me de um aluno que expressou sentir um vazio profundo e outro que afirmou ter vontade de morrer. Esses relatos surpreenderam a todos, especialmente considerando que se tratava de adolescentes que, à primeira vista, pareciam estar felizes.

Somos as principais referências para nossos filhos. Certa vez, atendi um jovem adulto que tinha pavor de casamento e sequer imaginava um dia se casar, embora desejasse ter filhos. Ao compreender sua história, percebi que a razão dessa aversão era a relação desastrosa entre seus pais, embora ambos tenham sido pais exemplarmente dedicados.  

Observa-se que muitos cônjuges têm dificuldades em lidar com a separação, o que gera conflitos intensos cujos “cacos” acabam recaindo sobre os filhos. Essa situação pode desencadear a Síndrome de Alienação Parental, causando sérias consequências para o desenvolvimento social, afetivo e familiar dos filhos. 

Onde está o pai?

Infelizmente, é comum observar que, após o divórcio, os filhos acabam tendo um contato cada vez mais limitado com o pai. Em muitos casos, apesar da separação do casal, os filhos se veem afastados de um dos genitores, o que compromete a convivência e o desenvolvimento afetivo deles. Contudo, essa realidade vem se modificando, com mais pais mantendo uma presença ativa. Infelizmente, ainda há aqueles que abrem mão da convivência com os filhos devido à nova configuração familiar, como por exemplo, quando se recasam e a nova parceira não aceita a continuidade desse vínculo.

Fonte: Pexels cottonbro.

Pesquisas demonstram que a presença ativa de ambos os pais é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional dos filhos. Por isso, é essencial que os pais continuem desempenhando seu papel com responsabilidades, comprometimento e afeto, garantindo que nunca sejam excluídos da convivência familiar.

Há mais de 30 anos, a guarda compartilhada tem sido incorporada aos acordos pós-separação, permitindo que os filhos convivam com um dos pais por períodos que variam entre 25 e 50% do tempo. Essa abordagem visa garantir o melhor interesse dos filhos, promovendo um convívio equilibrado e fortalecendo os laços afetivos com ambos os genitores. Essa prática busca assegurar o bem-estar das crianças, proporcionando um ambiente familiar saudável e equilibrado após a separação.

Estudos indicam que o regime de visitas alternadas aos finais de semana não atende plenamente às necessidades psicossociais e emocionais dos filhos.

Na minha opinião, estabelecer dias fixos para as visitas pode ser profundamente prejudicial. Embora essa abordagem seja mais compreensível quando os pais residem em cidades diferentes, mas na mesma cidade ela tende a limitar os laços afetivos com os filhos. Uma organização mais flexível pode favorecer uma convivência mais natural e fortalecer a relação com ambos os pais.

É fundamental compreender que, após a dissolução conjugal, os filhos devem ser priorizados e protegidos. Para isso, é essencial diferenciar entre conjugalidade, que se refere à união de duas pessoas formando um casal, e parentalidade, que abrange o conjunto de atividades e responsabilidades de cuidado e educação dos filhos.

Oficinas de Parentalidade

Assim, é fundamental que as famílias recebam apoio para lidar com a dissolução conjugal de maneira saudável e responsável. Em 08 de maio de 2014, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio da Recomendação Nº 50, orientou os Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais a adotarem as Oficinas de Parentalidade como política pública para resolução e prevenção de conflitos familiares. Essa iniciativa visa proporcionar a orientação necessária aos pais, promovendo o bem-estar dos filhos em um momento tão delicado.

A Oficina de Parentalidade Online é um curso gratuito oferecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que auxilia pais e mães a lidar com os conflitos decorrentes da separação. 

O curso se divide em duas partes: Oficina de Pais e Oficina de Filhos. A Oficina de Pais é destinada aos pais, mas pode incluir avós ou outros responsáveis que necessitem de orientação. 

A Oficina de Filhos se divide em Oficina de Crianças (para crianças de 6 a 11 anos) e Oficina de Adolescentes (para jovens de 12 a 17 anos).

Pais e filhos deverão participar apenas de seus respectivos cursos.

Oficina de Pais e Mães foi criada para ajudá-lo (a) a entender melhor os efeitos da separação na sua vida e na de seu filho e, ainda, para dar-lhe algumas ideias de como ajudar a si próprio (a) e a seu filho a superar as dificuldades desta fase de mudança e a ter uma vida mais harmoniosa e feliz. (texto CNJ).

Plano de Parentalidade

Em muitos países, após a separação, os pais estão sendo envolvidos no processo de construir um acordo no cuidado dos filhos. Estou me referindo ao Plano de Parentalidade, uma prática que já está se tornando obrigatória em diversos países ocidentais. 

O objetivo dos Planos de Parentalidade é detalhar, de forma precisa, como os pais deverão cuidar dos filhos após a separação, estabelecendo diretrizes para a tomada de decisões compartilhadas. Esse plano deve constar no processo judicial antes que o magistrado comunique sua decisão final.

A principal vantagem do plano é que, além de fornecer aos pais um documento legal, ele também ajuda a reduzir os conflitos interparentais. Serve como um norte para as decisões relacionadas aos filhos, sempre com o objetivo de garantir o melhor para o desenvolvimento e bem-estar deles.

Fonte: Pexels Mikhail Nilov.

Percebe-se que muitos pais acabam envolvendo seus filhos, mesmo que de forma não intencional, e só posteriormente percebem os danos causados. 

Com o fim do casamento, é importante compreender que a família não se dissolve totalmente, apenas se transforma. É fundamental que reconheçam essa continuidade para minimizar o sofrimento de todos os envolvidos. 

Conselho Nacional de Justiça – Oficina de Pais e Mães Online:

https://www.cnj.jus.br/formacao-e-capacitacao/oficina-de-pais-e-maes-online-2

Recomendação Nº 50: 

https://atos.cnj.jus.br/files//recomendacao/recomendacao_50_08052014_09052014145015.pdf

Até a próxima! Um grande beijo e fiquem com Deus 😉

Fonte: Livro: Quando os pais se separam.
               Artigo: A Construção da Parentalidade após a dissolução conjugal e as Oficinas de Parentalidade.
              Artigo: Plano de Parentalidade - Um novo paradigma para a reorganização familiar após a separação/divórcio.

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